Leilão do Túnel Santos–Guarujá: um projeto centenário que sai do papel

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Idealizado há mais de 100 anos, o túnel submerso que ligará Santos e Guarujá finalmente saiu do papel. Com investimento de R$ 6,6 bilhões e modelagem em PPP, o projeto inédito no Brasil promete transformar a mobilidade e a logística do Porto de Santos. O leilão, porém, reforçou discussões sobre financiamento, risco e a forte presença de grupos estrangeiros na infraestrutura nacional.

A proposta de uma ligação seca entre Santos e Guarujá atravessou o século XX sem sair do papel. Foram décadas de propostas interrompidas por falta de recursos, disputas políticas e entraves técnicos. Este cenário, criou uma enorme dependência do sistema de balsas com deslocamento lento e congestionado, limitando a integração urbana, logística e desenvolvimento entre os dois municípios.

O leilão realizado nesta sexta-feira, 05 de setembro de 2025, com a modelagem de uma Parceria Público-Privada (PPP), tornou o projeto viável e pronto para sair do papel.

Classificada como uma obra de alta tecnologia, ela será um túnel imerso de 1,5 km de extensão, dos quais 870 metros submersos, com três faixas por sentido, ciclovia, passagens para pedestres e integração ao VLT.

Mais que reduzir o tempo de travessia obra deve ampliar a eficiência logística do Porto de Santos, maior complexo portuário da América Latina, com reflexos diretos na competitividade das exportações brasileiras.

Estrutura financeira e modelo da concessão

O investimento total previsto é de R$ 6,8 bilhões, com aporte público de até R$ 5,1 bilhões dividido entre a União e o Estado de São Paulo. O restante ficará a cargo do parceiro privado vencedor do certame, responsável pela construção, operação e manutenção do túnel ao longo do prazo contratual de 30 anos.

O critério de julgamento foi o de menor contraprestação pública, ou seja, o maior desconto sobre a parcela de aporte público. Esse arranjo busca equilibrar risco e atratividade, já que a cobrança direta de pedágio foi considerada insuficiente para garantir a bancabilidade do projeto.

Investimentos

Distribuídos entre diferentes frentes de obra, a maior parte do investimento concentra-se nos acessos em ambos os lados, sendo R$ 1,55 bilhão no lado Santos e R$ 1,49 bilhão no lado Guarujá, seguidos pelo túnel imerso, com R$ 1,44 bilhão. Também fazem parte da conta a doca seca e conexões, com R$ 1,36 bilhão, além de gastos com projeto, canteiro de obras e imersão dos módulos.

Esse detalhamento evidencia que o desafio vai muito além de uma obra pontual, envolvendo grandes intervenções urbanas e logísticas nas áreas de acesso, que somadas representam mais da metade do investimento total.

Fonte: Modelo Econômico-Financeiro do Projeto 

Receitas Operacionais

A receita do projeto virá da cobrança de pedágio, fixada em R$ 6,15 por eixo equivalente. Um carro de passeio é considerado 1 eixo, enquanto veículos comerciais podem chegar a 3,72 eixos, refletindo o peso da atividade logística na região.

O tráfego médio estimado é de 42.542 eixos por dia, volume que representa a demanda atual das balsas e a expectativa de transferência imediata para o túnel. Com isso, a receita acumulada ao longo dos 30 anos de concessão deve alcançar R$ 2,72 bilhões.

Embora expressivo, esse valor cobre apenas uma fração do investimento total, o que justifica o modelo de PPP patrocinada, com forte aporte público para garantir a viabilidade financeira.

Fonte: Modelo Econômico-Financeiro do Projeto

TIR e Payback 

Segundo o modelo financeiro do projeto, a TIR real do é de 11,17% com um payback de 12 anos, considerando uma dívida total de R$ 613 Mi ao custo de IPCA + 8,97% a.a.

  • TIR real: 11,17% (com variação até 11,93% nos cenários alavancados)
  • TIR nominal: entre 15,34% e 16,13%
  • Payback: 12 anos
  • Dívida estimada: R$ 613 milhões, a um custo de IPCA + 8,97% a.a.
  • Receita de pedágio: R$ 6,15 por eixo equivalente, com fluxo médio de 42.542 eixos/dia, gerando R$ 2,72 bilhões ao longo do contrato.

Segundo especialistas, a taxa de retorno prevista é baixa em comparação aos parâmetros de juros. Apesar da expectativa de queda do custo de crédito, a complexidade da obra e o grande aporte financeiro aumentam o risco para os investidores.

Fonte: Modelo Econômico-Financeiro do Projeto 

Proponentes

Realizado na sede da B3, em São Paulo, o leilão contou com dois grupos estrangeiros apresentaram propostas:

Acciona (Espanha)

Atua no Brasil desde 1996 e já realizou obras de grande relevância, como o Terminal 2 do Porto do Açu e a transformação da Estação Júlio Prestes na Sala São Paulo. Atualmente, a empresa conduz a retomada das obras da Linha 6-Laranja do metrô paulistano. 

Mota-Engil (Portugal)

Atua desde 2009 no país no setor das concessões rodoviárias. Atualmente, trabalha no setor da Engenharia e Construção e em Oil & Gas através da Empresa Construtora Brasil (ECB) e no setor do Ambiente, através da SUMA Brasil, além de sistemas de telemetria rodoviária através da Tracevia do Brasil.

A Mota-Engil participa do leilão em conjunto com a empresa estatal chinesa CCCC (China Communications Construction Copany), que, na Bahia constrói a ponte Salvador-Itaparica. Em 2017 a CCCC adquiriu a construtora brasileira Concremat.

A ausência de construtoras brasileiras tradicionais, como Odebrecht e Andrade Gutierrez, gerou críticas sobre as condições de habilitação. O Ministério Público junto ao TCU chegou a pedir a suspensão do certame, alegando que as exigências de financiamento teriam favorecido empresas estrangeiras. Ainda assim, o governo manteve a realização do leilão, reforçando a importância estratégica da obra.

Resultados do Leilão

A Mota-Engil ofertando 0,5% de desconto sobre a contraprestação pública, vence o leilão contra a Acciona que ofertou 0,0%.

Análise UNA

O leilão do Túnel Santos–Guarujá ilustra como projetos de infraestrutura de alta complexidade exigem equilíbrio entre modelagem regulatória e estratégia financeira. A necessidade de aportes públicos robustos e a concentração de players estrangeiros mostram que a bancabilidade continua sendo um desafio central em PPPs desse porte.

Na UNA, entendemos que o sucesso de projetos como este depende de estruturação sólida: da modelagem de garantias à precificação de riscos, da escolha da dívida adequada à gestão de covenants ao longo de décadas de contrato. É nesse cruzamento entre finanças e regulação que atuamos, ajudando nossos clientes a transformar grandes obras em ativos sustentáveis e atraentes para investidores.

Referências

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